Comer, comer
Cada vez mais podemos comprar menos comida e não só por causa de uma forçada economia doméstica imposta pelos miseráveis salários que nos pagam, mas também e principalmente porque comer sem culpa e preocupação está cada vez mais difícil e complicado.
Os cuidados nos obrigam a ter hoje também em nome da chamada alimentação adequada estão transformando o simples ato de comer, que já foi um prazer para o paladar, em uma quase ameaça de morte. Toda hora tem alguém em um veículo de comunicação dizendo que isso faz mal, que aquilo pode apressar a morte e que muitos outros até então inocentes produtos podem nos deixar mais doentes fisicamente. Porque diante de tantas novas regras de alimentação, doentes mentalmente já estamos. Cada vez mais.
Bons tempos em que só nos preocupávamos em trabalhar para comer. Agora é também com o que comer. Os supermercados oferecem de tudo e com facilidades que independem do fogão: nos modernos dias de hoje está tudo pronto para apenas esquentar no micro-ondas, que segundo alguns especialistas também faz mal. As facilidades ofertadas pela indústria de alimentação na verdade não facilitam nada: ninguém mais sabe direito o quanto e o que comer.
A cada dia um punhado de especialistas, alguns nem tanto, muda as regras: tem dia que ovo é saudável e minutos depois se transforma novamente no vilão do colesterol e, portanto, do coração. Ultimamente têm sido assim com quase tudo e diante de tanta informação desencontrada acabamos paralisados na frente das panelas, que até vazias fazem mal. Todas as simples regrinhas que aprendemos na infância sobre o valor das proteínas e dos carboidratos não fazem mais sentido: proteína (leite, carne e ovos) demais faz mal, e carboidrato de menos também.
Alimentar-se diariamente virou uma terrível e cruel tortura: se não nos alimentamos ficamos doentes por falta de comida, se comemos demais podemos ficar doentes pelas escolhas erradas. Mas, como saber quais são realmente as escolhas acertadas se a cada dia os especialistas nos alimentam com um tipo de informação?
Parece que agora o ideal é comer consultando um livro sobre saúde e alimentação. Mesmo assim com tantas opiniões especializadas há um grande risco de errar. Tudo bem que nos incertos e corridos dias de hoje alguns cuidados possam se fazer necessários. Mas, convenhamos, não é preciso exagerar e muito menos encher nossos pratos de informações indigestas. Estamos perdendo o saudável hábito de simplesmente comer. Estão acabando - e a cada dia mais - com o nosso apetite de comida e de prazer em nome de uma vida supostamente mais saudável. E certamente menos feliz. Vida saudável também é viver e comer com prazer.
*Sem culpa e sem medo (Eli Halfoun)
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
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