segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CRÔNICA ----- Com esperança

Naquela manhã de domingo o sol brilhava mais intensamente, contrariando a previsão de tempo nublado (a meteorologia nunca acerta) como se também quisesse homenagear o dia das mães. Era dia de festa, mas para muitas mães um dia de esperança, de possibilidade de acabar com o desemprego e de melhorar de vida. No portão da Universidade Veiga de Almeida, na Tijuca, Rio, muitas mães, muitos pais e muitos jovens filhos se aglomeravam em imensa fila para realizar mais um dos muitos concursos públicos que tem sido oferecidos anualmente. É só o que se oferece. Dos mais dos dois mil inscritos que ali estavam pouco mais do que vinte conquistariam o emprego que tanto precisavam e com o qual tanto sonhavam.
Na minha frente duas bonitas moças conversavam apressadamente como se assim pudessem espantar o nervosismo que uma prova impõe a qualquer concorrente. Deu para ouvir que eram recém formadas e que, mesmo com diploma na mão, não tinham conseguido qualquer chance e agora por isso procuravam a esperança da suposta estabilidade do emprego público.
Os milhares de candidatos que tem participado de concursos públicos não são só o retrato do desemprego e dificuldades de vida. A busca de uma vaga através de concurso público é também o reflexo da insegurança profissional com o desemprego no país. Ninguém mais acredita que por melhor profissional que seja tenha emprego garantido por muito tempo.
O emprego público ainda é a garantia maior de “não ser demitido” e a esperança de uma razoável aposentadoria. É também e talvez principalmente por isso que tanta gente estava lá naquela fila da esperança uma na vaga a salvação. Provavelmente se uma das duas belas e diplomadas moças que estavam na minha frente fossem “premiadas” com o emprego público certamente esqueceriam o diploma no fundo de uma velha gaveta e o Brasil estaria ganhando (como se realmente precisasse) mais dois funcionários públicos e perderia duas médicas, duas advogadas, seja lá em que tenham se formado.
Concurso público é também festa para camelôs: e lá estava eles aos montes vendendo canetas, lápis, borrachas, refrigerantes, guloseimas. Camelôs são bem informados e sempre estão em qualquer lugar em que haverá um provável grande número de clientes. O que me levou a pensar que quem não for classificado em concurso público pode virar camelô. Não chega a ser um emprego estável, mas num país de cada vez mais desempregados não deixa de ser uma tentativa digna de pelo menos tentar garantir o feijão e arroz de cada dia.
Do jeito que andam as coisas vamos todos, mais dia menos dia, virar ambulantes.Só faltará quem compre (Eli Halfoun)
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