Olhar-se no espelho virou um grave problema porque mais do que refletir a beleza o que mais percebemos são os defeitos, mesmo que não sejam tão defeituosos assim e, na maioria das vezes, apenas representem marcas do tempo - marcas que não podemos mais apagar e das quais, em vez de esconder, devemos, isso sim, nos orgulhar.
As mulheres, principalmente, estão deixando de fazer do espelho um sorridente aliado da beleza e da vaidade. Agora é comum uma mulher olhar para o espelho e descobrir celulites mais marcadas, estrias salientes e rugas acentuadas, além de gordurinhas desesperadoras. Pronto: o espelho, antes amigo da beleza, vira inimigo mortal. Está criado mais um grave problema. Nos homens é quase sempre o inevitável barrigão e a perda de cabelo que os apavora, estraga o dia e se bobear, faz a vida ficar desnecessariamente infeliz.
O culto à beleza física nos fez mais frágeis diante de marcas que, queiramos ou não, são sinônimos da vida, do tempo. Geralmente não conseguimos conviver “numa boa” com nossos defeitos, nossas limitações físicas. Somos covardes e medrosos: trememos diante de qualquer limitação ou marca física. Ainda não aprendemos a conviver com as verdades do corpo que o tempo impõe. Qualquer marquinha fora dos padrões que a sociedade determina e exige, nos preocupa bem mais do que deveria. Nem deveria.
Besteira: não há limites para a vida e para a beleza. Afinal, o que é feio para uns é bonito para outros. Todas as limitações podem ser superadas fazendo do viver sempre uma nova descoberta. Uma descoberta de nós mesmos. De nossa capacidade de reinventar a vida.
É isso o que os atletas dos jogos para-olímpicos nos tem mostrado: não há como deixar de enxergar em cada sorriso de um cadeirante, em cada puxada de perna de um portador de deficiência, em cada olhar (olhar, sim, porque enxergam a vida com um colorido entusiasmo) de um cego a redescoberta do prazer de viver. De atuar na vida.
São eles, heróis do esporte e da superação, que estão nos mostram que não há limites para ser e que todas as dificuldades, físicas ou não, podem ser superadas. Não é qualquer celulite, qualquer estria, qualquer cicatriz, qualquer marca do tempo que limitará nossa capacidade de vencer obstáculos e redescobrir a vida.
As atividades esportivas dos portadores de deficiência são exemplos de vigor, de redescoberta, de entusiasmo pelo esporte e pela vida. É emocionante ouvir um atleta cadeirante dizer em entrevistas que continua levando uma vida normal e feliz, mesmo obrigado a ver o tempo, mas não exatamente a vida, sentado em uma cadeira de rodas, arrastando a perna, mancando ou guiado por uma companheira bengala branca.
São pessoas assim que levantam e correm para a vida enquanto a maioria se deixa limitar por qualquer bobagem. Nem é preciso olhar para os jogos para0olímícos: exemplos de superação nos são mostrados diariamente nas ruas.
Costumamos chamar os portadores de necessidades especiais de deficientes físicos sem perceber que deficientes são os supostos “normais” que enfraquecem diante de qualquer probleminha. Deficientes são os que não conseguem enxergar a vida com a força capaz de vencer qualquer obstáculo.
* Viver não tem limite (Eli Halfoun)
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
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