segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CRÔNICA ------ O futuro no passado

Todo o início de mês é a mesma coisa: no banco a fila de idosos fica mais movimentada e longa do que costuma ser. Início de mês é tempo de receber o minguado, mas pago religiosamente em dia, dinheiro da aposentadoria e que geralmente não faz justiça a quem trabalhou uma vida inteira. Na boca do caixa eletrônico um senhor aparentando 80 anos, recebe o pagamento, confere sem pressa (velhos não precisam mesmo mais ter pressa) separa uma parte e entregas para a jovem (provavelmente sua filha) com um bebê no colo, que o acompanha. Velhos aposentados são os que ainda mais ajudam filhas e filhos em situação difícil.
As poucas notas que entrega na mão da moça parecem não ser nada (“obrigação de pai” - dirão alguns). O gesto se repete muitas vezes em milhares de casas Brasil afora: na maioria das vezes é o idoso (mesmo o que está mal aposentado financeiramente) o provedor de muitos lares brasileiros com salário família e tudo. É a financeiramente injusta e desrespeitada aposentadoria de quem não devia mais preocupar-se com nada que ajuda a sustentar, filhos e netos, muitas vezes dividindo um dinheiro que mal dá para comprar os remédios que precisa.
A sina do velho parece ser a de ficar ns fila: agora enfrentam filas nas farmácias desde que o governo passou a dar ou vender mais barato, alguns medicamentos. Só agora muitos idosos estão podendo usar o medicamento que sempre necessitaram.
É esse mesmo idoso rejeitado e até desprezado pela sociedade que continua movimentando (ainda mais depois que teve acesso aos não recomendados empréstimos consignados) economicamente o país. É o idoso que faz circular seu dinheiro em um ganancioso mercado que na hora de oferecer alguma coisa, quer o idoso bem longe porque “ele está com prazo de validade vencido” e, portanto, não serve pra mais nada. Serve sim e muito.
Seria diferente, muito diferente, se o mercado de trabalho ainda oferecesse oportunidades para a saudável e necessária para quem tem a vida como currículo.
Como pensar em trabalho para os velhos se não há empregos nem para os jovens? A população brasileira de idosos está cada vez mais numerosa: nas ruas eles se movimentam sem pressa, mas com um ainda profundo e sorridente amor pela vida. Mostram que não formam uma carga tão pesada quanto se quer fazer crer. Velhos nunca estarão sobrando em qualquer sociedade que queira ou não queira ainda depende muito deles.
É preciso definitivamente olhar os idosos com realidade e permitir que continuem sendo úteis e não só na hora de repartir o dinheiro da aposentadoria.
Só a partir de uma nova visão da realidade dos idosos poderemos mostrar aos jovens como construir um amanhã melhor e mais digno. Com mais respeito e amor.
Só olhando os velhos como eles merecem é que se poderá olhar mais e melhor para os jovens
* Não se pode pensar e construir o futuro sem olhar pra o passado. (Eli Halfoun)

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