Definitivamente o botequim, essa deliciosa e democrática mania carioca, não é apenas balcão para se embebedar, esquecer a cruel preocupação com o colesterol, fazer o tempo passar e jogar conversa fora. É nos botecos que se aprende mais e melhor a vida que a vida tem para nos dar. Conversa de botequim, de gente geralmente humilde (só os humildes conseguem ser absolutamente verdadeiros porque não precisam mentir para si próprios) costumam refletir o pensamento da população e através de papos que a princípio consideramos sem sentido, nos fazem aprender e pensar. Principalmente aprender a pensar.
Abastecidos com uma cerveja gelada dois homens conversam no balcão do boteco da esquina (qualquer esquina do Rio tem sempre um boteco gostoso). Os dois homens falam alto (todo mundo fala salto em botequim, talvez porque nesse espaço todos queiram ser democraticamente ouvidos). Um dos homens, copo na mão reclama: “Falta de sorte, cara. Só ganhei vinte mil no sorteio da loteria. O amigo, que também deve ser um “reclamão” não estranha. Apenas comenta: “Ta doido, cara? Ganhou e está reclamando. O premiado responde com uma cara de infeliz: “Tô sim, o prêmio total era o triplo e só ganhei essa mixaria”.
Talvez seja um papo maluco, mas pensando bem tem tudo a ver com cada um de nós: virou quase uma obrigação reclamar de tudo. Até da sorte.
Tudo bem que reclamar é fundamental, desde que as reclamações tenham sentido coletivo. Mas nossas constantes e diárias queixas estão sempre voltadas para o próprio umbigo: reclama-se do trabalho, da casa, da mulher, dos filhos, do calor e se faz frio ou chove, reclamamos da chuva e desse tempo frio que nada tem a ver como Rio de Janeiro sempre emoldurado pelo sol.
Na conversa alheia do botequim reparo e me convenço que está mais do que na hora de parar de reclamar por e de qualquer besteira. As mais completas lições de vida estão nas ruas e nos botecos. Preste atenção, logo ali na esquina tem um camelô suado, cansado, gritando já sem voz, mas que nem assim perde o ânimo. Talvez fosse mais feliz se não precisasse, cimo, aliás, quase todos nós, trabalhar, trabalhar, trabalhar para ainda assim viver mal. Apenas sobreviver
As dificuldades, evidentemente mais para uns do que para outros, estão aí e são inevitáveis. São elas que movimentam a vida e nos fazem continuar. É por isso que nas lições das ruas, dos botecos, da vida precisamos aprender a parar de reclamar olhando apenas para o próprio umbigo.
Não se trata daquele velho e geralmente demagógico discurso de que é preciso ver a vida pelo lado otimista, o lado positivo (qual será?) das coisas. Mas convenhamos que somente parando de reclamar de qualquer coisa é que será possível e permitido viver mais e melhor. Nada de acomodar-se diante de situações negativas. É preciso saber que se queixando menos será muito mais fácil e gostoso enfrentar o dia. Todos os dias.
Comece as prestar atenção nos papos de botequim, nas pessoas que andam apressadamente pelas ruas. São elas que nos mostram a verdade. Ilustram a vida. A primeira e importante lição talvez seja a de em vez de chorar com a queda importante é aprende r a rir do tombo. Transformar qualquer queda, qualquer dificuldade em um engraçado tombo, em um escorregão que nos faz tropeçar, mas não necessariamente cair. Só assim até a cerveja que tomamos no botequim da esquina terá mais sabor.
A vida também
terça-feira, 16 de novembro de 2010
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