Fica cada vez mais estranho e confuso esse mundo que estamos construindo. O que deveria ser normal nos surpreende mais e mais a cada dia. Honestidade virou virtude quando deveria ser obrigação. Ser educado, solícito e solidário é comportamento tão raro que nos surpreendemos até com um simples muito obrigado. Repare como ninguém está preocupado em apresentar um profissional, qualquer profissional, apenas com boas referências de trabalho: a primeira coisa que se diz é “fulano é honesto”, como se isso fosse (e é) coisa rara nesse país de falcatruas e impunidade.
Nosso comportamento está de cabeça para baixo: a roubalheira, os golpes, a violência, a falta de solidariedade e outras lamentáveis mazelas ficaram tão comuns que já não nos surpreendem: passaram a fazer parte do nosso triste cotidiano. O que nos surpreende agora é o que deveria ser comum e normal, ou seja, a honestidade, o bom caráter, a solidariedade.
A rara honestidade passou a ganhar tanto espaço na mídia quanto a desonestidade que se fosse contada em detalhes, principalmente na política, encheria páginas de jornais e revistas.
Um exemplo de rara e surpreendente honestidade é presenciar um comportamento quase impossível no ganancioso comércio que também nos mete diariamente a faca no peito. Exemplo: você precisa sair às pressas parar um,digamos, filtro delinha e continuar usando o computador como ferramenta de trabalho e faz sua primeira tentativa de compra em uma loja de ferragens mais próxima de sua casa e com sorte encontra o tal filtro, que custa mais de vinte reais. Comenta com o vendedor que seu filtro queimou e ele com gentileza (também coisa rara) oferece uma solução prática e barata: trocar apenas o fusível do filtro e comprar um novo fusível que custa apenas quarenta centavos. O vendedor sugere: “traz o filtro aqui que eu troco o fusível e assim não é preciso pagar mais caro por um novo filtro”. Nesse momento fica claro que mais importante do que a economia é atitude do comerciante que por uma lógica com a qual também nos acostumamos deveria fazer de tudo (como se faz no comércio de uma maneira geral) para empurrar a mercadoria mais cara e que certamente dá mais lucro. Problema solucionado o freguês sai da loja satisfeito especialmente com a certeza de que nem tudo está perdido: ainda existe Brasil afora muita gente honesta, o que nem deveria nos surpreender. Só ficamos surpresos porque o mais comum nesse mundo maluco é topar com alguém que nos arranque a pele ou pense apenas em engordar de qualquer jeito sua conta bancária e não no coletivo.
O vendedor que deixou de ganhar mais algumas moedas teve lucro moral bem maior e deixa um exemplo a ser seguido. É incrível como muita gente tem medo da honestidade porque nesse mundo gira ser honesto e solidário pode ser sinônimo de tolice e idiotice.
Não importa se alguém nos considere tolos e idiotas só porque agimos da maneira certa. Tolos são os que se enganam e acreditam que continuarão nos enganando por muito tempo.
O mundo ainda é melhor para quem age corretamente.
domingo, 14 de novembro de 2010
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