Vejam só como o ser humano é confuso: agente passa a vida inteira brigando para não morrer, mas não consegue entender que permanecer vivo é inevitavelmente envelhecer. Afinal, foi para isso que de uma forma ou de outra conduzimos nossas vidas. Ainda não conseguimos aceitar com tranqüilidade e sabedoria a conquista da velhice.
Os velhos que tanto brigaram para ficar vivos e, portanto, cada vez mais velhos, e os jovens que um dia chegarão lá ainda não conseguem aceitar e conviver com o avanço da idade, o que transforma toda a luta para permanecer vivo em uma luta sem sentido e cria um sentimento paradoxal. Ora, se permanecer vivo é ficar velho não há que temer a idade e muito menos a vida que mal ou bem continua não se sabe ate quando. Aliás, não se sabe o tempo de vida nem quando nascemos.
Talvez todo o desconforto com a velhice esteja ligado ao simples fato de que a chamada idade avançada nos deixa mais perto da morte, daquilo contra o que lutamos a vida inteira.
E se lutamos e vencemos não pode e não deve ser motivo de medo, de recolhimento, de sentir-se um nada como costuma acontecer com muitos velhos. Quem chega aos 6o, 70,80 ou mais anos deve honrar-se dos cabelos brancos e exibi-los com orgulho – o orgulho de quem venceu a morte durante muitos anos, mesmo consciente de que deixar essa vida é o único destino traçado da mesma forma para todos nós.
É verdade que muita gente chega à velhice de uma forma deplorável: arrastando-se pelas ruas, humilhado pela aposentadoria, vivendo sem qualquer tipo de merecido e conquistado conforto, agredido pela sociedade e até pelos familiares. Embora essa também seja uma cruel realidade não é esse o “retrato” que os “novos velhos” devem ter da velhice. Ficar velho não significa perder, mas sim ganhar: é a idade que nos acrescenta encantos, sabedoria, experiência e um passado, ou seja, uma vida para narrar.
Se a velhice mais perto e conscientes da morte ela também nos aproxima mais e inteiramente da vida porque essa vida não é só a que estamos vivendo, mas também a que podemos relembrar.
Conviver “numa boa” com a velhice é o segredo maior da vida. É acima de tudo a compreensão de que vencemos todos os obstáculos e por isso –só por isso - estamos velho-s. E vivos.
Definitivamente ficar velho não é morrer, deixar a vida em vida. É viver cada vez mais intensa e corajosamente. Continuar vencendo obstáculos, fazendo de cada dia um novo capítulo de vida mesmo que o final seja aquele que conhecemos. Aceitar a velhice é uma questão de respeito ao próprio corpo, as próprias lutas. Ficar velho não é estar morto. Pelo contrário: é estar cada vez mais vivo.
E completo
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
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Sábio Eli. É complicado aceitar, entender...mas maravilhoso envelhecer.
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