segunda-feira, 22 de novembro de 2010

CRÔNICA ---- Jóia rara de se ver

Fim de ano. Hora de fazer planos, pensar em festas e como sempre prometer que no ano novo tudo será diferente, como se a simples mudança de data modificasse realmente algumas coisa, a não ser a data no talão de cheques. É também época de 13º salário e ainda assim de uma corrida louca atrás de dinheiro: o décimo terceiro salário foi gasto antecipadamente e o que sobra está comprometido por dívidas.
O brasileiro, assim como o Brasil, tem mania de gastar “por conta”. Quase sempre é isso o que o deixa encalacrado em dívidas que muitas vezes nem se lembra de ter feito: o brasileiro acredita em Papai Noel. O Brasil também.
Dezembro é mês de calçadas e lojas cheias de consumidores e de um cada vez maior número de batedores de carteira. Nessa corrida do ouro, de mais e mais dinheiro para fazer compras, o que muitas vezes faz os apressadinhos gastarem agora o 13º salário de 2011. Assim uma das “minas” mais procuradas é o penhor da Caixa Econômica.
Resultado: o setor de penhor que troca ouro por dinheiro está repleto e todas as agências e leva horas para deixar ali uma pulseira de estimação, o anel que a vovó deixou de herança, a grossa aliança que pode não significar mais nada se não houver dinheiro para manter um casamento sem problemas, mas não necessariamente feliz.
Na fila (organizada, é verdade) do penhor a paciência é a jóia mais rara de se ter: é um exercício (um desafio mesmo) até para quem pratica a meditação. Ali é também uma espécie de cantinho dos desabafos: ouve-se de tudo, todo tipo de história e as mais estranhas justificativas para estar ali no penhor, mas a maioria quer mesmo é dinheiro para comprar mais presentes de Natal, como se o presente fosse mais importante do que o afeto.
Nessa época de medo a corrida ao ouro aumenta: muita gente nem precisa e quer dinheiro. Só quer mesmo é deixar seu pequeno patrimônio de jóias em segurança, livre dos ladrões. Justifica-se: afinal quem é tão corajoso assim para, especialmente nessa época, sair pelas ruas usando jóias. Hoje o negócio e bijuteria. Ficou longe o tempo em que se podia exibir, até com orgulho, uma bela pulseira de ouro, um anel de brilhantes, um relógio original.
Agora as jóias só servem mesmo para ficar guardadas e protegidas nos cofres da Caixa Econômica. Do jeito que a violência cresce não demora muito nós os cidadãos de bem é que teremos de ficar trancado em cofres. Trancados em casa já estamos.

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