sábado, 30 de outubro de 2010

CRÔNICA - Tempo feliz todo o tempo

O dia inteiro foi um festival de reclamações (nenhuma novidade: reclamamos sempre de tudo) no sobe e desce escada, exercício imposto pelo corte de energia elétrica que parou os elevadores, desligou as geladeiras, silenciou oscomputasdor4es. Praticamente parou a vida dos prédios, das lojas, de tudo. Era como se o mundo não girasse mais. Eram quase sete horas da noite, mais de meia hora após o prazo previsto para os necessários reparos na rede elétrica, quando a luz voltou a brilhar para mostrar como nesses modernos dias a energia elétrica (como será que um dia o mundo viveu sem luz?) faz uma falta brutal.
Elevador cheio, todo mundo – que novidade! – reclamando. Apenas uma senhora beir4andouns 980 anos de idade estava ali serelepe, animada. Orgulhosa comentava: “Subi e desci de escada do 5º andar u9ma três ou quatro vezes e foi ótimo”. Era a única que tinha motivos físicos para reclamar, mas não o fazia. Pelo contrário: ria da situação com um riso saudavelmente feliz como deveria ser o riso de todos os idosos. A magrinha e durinha senhora é conhecida no prédio: vive para cima e para baixo. Sempre sorrindo caminha a rua inteira. É um exemplo ambulante de que a velhice não é doença. É experiência.
O velhinho de pijamas e chinelo, sentado o dia inteiro no sofá da sala não é mais a imagem que se tem e se faz dos idosos, embora uma grande parte deles ainda não tenha entendido que idade avançada não é limite para nada. Velho não tem idade. Tem vida.
Quem aos 60, 70, 80 anos ou daí em diante só fica pensando no passado (que, aliás, só serve para escrever livro) deixa o presente passar. Pensar no futuro é fundamental. Ficar esperando o tempo passar é perda de tempo.
Conviver com a idade é, às vezes, muito difícil. Fica mais complicado quando a idade se transforma num peso, em uma inútil espera da morte que virá sim, mas ninguém, ninguém mesmo, sabe quando. Até lá sempre haverá muito a fazer e descobrir.
To dia é possível descobrir alguma coisa: a vida é uma diária caixinha de surpresas. Então, deixemos que ela nos surpreenda. A vida só tem uma regra: viver.
Fazer um tempo feliz todo o tempo.

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