terça-feira, 5 de abril de 2011

CRÔNICA --- Uma questão de respeito

Educação talvez seja a palavra mais usada, especialmente em época eleitoral, da língua portuguesa. Virou uma espécie de sinônimo de promessa e de mentira. No Brasil a educação está longe de ser concreta e uma feliz realidade. É na maioria das vezes apenas instrumento de promessas nunca cumpridas e uma forma de enganar a população, que continua sem possibilidade de educar-se e aprender a pelo menos ler e escrever. O analfabetismo é uma cruel forma de cegueira.
Sempre que se fala em educação a impressão que fica é a de que as chamadas autoridades não querem enxergar a verdade porque prefere uma população de olhos vendados diante das palavras para melhor manipulá-la.
É verdade que também em matéria de educação houve uma grande melhora, mas ainda estamos longe, muito longe do ideal: faltam escolas, faltam ações e falta principalmente uma nova maneira de enxergar a educação para que o Brasil deixe de ser um país de ainda muitos analfabetos.
O problema maior é que não se encontrou ainda uma fórmula de levar ensino (educação é outra coisa), mesmo que seja o mínimo, para todos. Não basta aumentar o número de escolas se os alunos não têm como chegar a elas e são muitos os motivos dessa distância entre o que se precisa e quer aprender e o poder aprender: falta do dinheiro para a condução, a falta de alimentação adequada para poder desenvolver mais do que apenas o corpo. O resultado é que muitas crianças e até adultos que já viveram piores épocas muitas vezes são obrigadas a abrir mão do ensino básico porque precisam trabalhar para sobreviver e não exatamente para viver até porque sem o mínimo de alfabetização a vida estará sempre incompleta, mais vazia.
É preciso urgentemente encontrar formas adequadas de ensinar: se as crianças não podem chegar até a escola que a escola chegue até essas crianças com, por exemplo, a formação de grupos de ensino, como já se fez e faz com a saúde, também ainda está longe do ideal e tem sido outra arma política de promessas. Promessas e nada mais.
Há também uma enorme confusão entre o que é educação e o que é ensino básico. Educação não é exatamente apenas saber ler e escrever. Um povo educado é um povo que aprenda a respeitar o próximo e todos os limites sociais fundamentais para a formação de uma sociedade, que se não é totalmente alfabetizada que seja inteiramente educada.
Lições não devem ser restritas aos fundamentais bancos escolares: existem várias maneiras de alfabetizar, ensinar e educar. A televisão ainda é o mais importante veiculo de comunicação do mundo e pode exercer um grande e definitivo papel na educação, mas não exatamente com cursinhos chatíssimos de supostamente alfabetização e sim com ensinamentos transmitidos através da diversão. Programas de auditório de discutível qualidade têm sido mesmo assim ótimas fontes de ensino com jogos que de uma maneira ou de outra, sempre ensinam alguma coisa. Mais, muito mais, do que prometem os políticos.
Até 2007 o Brasil tinha 14,1% de analfabetos enquanto o analfabetismo funcional era de 21,6%. Continuará sendo assim enquanto o país não enxergar a grande diferença entre alfabetizar e educar. Só depois que toda a população tiver aprendido o bê-á-bá é que se poderá falar em educação mais extensa, fazendo cumprir a Constituição de 1988 estabelecendo que “educação é um direito para todos, um dever do Estado e da família”. Um direito promovido com a participação de toda a sociedade para desenvolver plenamente a personalidade humana e garantir participação de trabalho digno e, portanto, de vida saudável em todos os aspectos.
Enquanto o país não encontrar uma forma de fazer o ensino mínimo chegar a todas as casas, o ideal é que a população analfabeta e também a alfabetizada aprenda que educação é fundamentalmente respeito - um respeito que a maioria do povo não aprendeu inteiramente. Educar é acima de tudo ensinar o fundamental respeito ao próximo. Mas como ensinar o que não se tem? (Eli Halfoun)

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