sábado, 23 de abril de 2011

CRÔNICA ----- Pedindo passagem

A distância costuma modificar e dificultar muitas coisas em nossas vidas. É distância que faz a saudade ainda maior. Repare só que quando alguém de quem se gosta se muda para outra e mais distante cidade, a saudade se faz maior, inteira, dolorida. Quase sempre essa pessoa está próxima da gente e nem a vemos ou visitamos freqüentemente. Basta à distância se fazer mais longa para a saudade aumentar. .
Ultimamente a distância se impõe também com um novo comportamento, principalmente em relação ao trabalho. Têm sido comum ver em lojas, padarias, lanchonetes ofertas de empregos para quem “more perto”. Não é, embora possa até parecer, nenhuma preocupação dos patrões com o conforto do funcionário, com o querer livrar o empregado de enfrentar um verdadeiro massacre na volta pra cassa ao final do duro dia de trabalho. A preferência para quem “more perto” é apenas a preocupação em não ter que pagar, mesmo que seja em vale transporte, um alto preço de passagem, preço que está acabando com muitas ofertas de trabalho.
Outro cruel sintoma: nos corridos dias de hoje é raro, muito raro, alguém querer uma empregada doméstica que durma e casa fique trabalhando a semana inteira e ocupando um quartinho que hoje acaba ficando para um filho ou se transforme em escritório. Esse tipo de empregada, que todos tínhamos antigamente, representa hoje um gasto maior com luz, comida e outras coisas. Com a cada vez mais necessária e forçada economia impõe-se também um restrito espaço para o cada vez maior número de diaristas, que também perdem oportunidades quando o preço da diária é acrescido inclui do “por fora” da passagem - uma caríssima passagem que acaba por aumentar em muito o suposto preço da diária. Diaristas moram, quase todas, muito longe porque esse é o único jeito que ainda encontram para morar.
O fato é que as diaristas, obrigadas a incluir em suas “visitas” a condução, também estão sendo discriminadas por conta do preço da passagem. O preço da passagem tem dificultado (e cada vez mais) encontrar trabalho. Tem deixado muitas diaristas sem qualquer tipo de opção por que: precisam continuar morando longe e precisam receber o alto preço da passagem. Alto preço que os patrões tem evitado pagar não porque não querem e sim porque cada vez também recebem menos.
Esse novo comportamento ditado pela distância e, em conseqüência, pelo alto preço das passagens (quem mora longe sempre precisa utilizar maus do que uma única condução) acaba criando um outro grande problema: quem ganha pouco mais do que um salário mínimo e mora longe do emprego acaba gastando boa parte do salário em passagem. Na maioria das vezes tem que optar entre comer ou vir para o trabalho. Para as duas coisas o dinheiro não dá.
A distância se agrava desde que ficou impossível fazer um longo percurso a pé. Caminhar nos transforma em alvo fácil para qualquer tipo de violência. Desse jeito só nos restar sentar a beira do caminho. E rezar para que a vida nos dê passagem. (Eli Halfoun)

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