Não só nas páginas de noticiário que os jornais nos surpreendem diariamente com novos escândalos, novas falcatruas, dezenas de mentiras e de declarações políticas de um cinismo assustador. Todo dia tem uma escandalosa novidade. Nada de muito estranho num país que parece ter se acostumado a conviver com escândalos políticos e que tem uma estranhíssima forma de agir no seu dia a dia. Basta abrir as páginas de anúncios classificados para descobrir que essa estranha forma de agir está presente em quase tudo. São, por exemplo, dezenas as ofertas de “dinheiro fácil”(nem tão fácil assim porque cobram juros absurdamente fora da realidade, aproveitando-se vergonhosamente da necessidade do, digamos, consumidor ( mas tudo bem que essa é a “regra” do jogo e entra no jogo quem quer). Mas vejam só como o “jogo” pode também ser fraudado. Entre as muitas ofertas financeiras um determinado banco anuncia que basta ter um talão de cheque de qualquer banco para conseguir empréstimo. Pura mentira: quem liga para o tal banco fica sabendo de saída que é preciso, em primeiro lugar, ter contracheque da empresa da qual é empregado. Autônomo não serve, pequena empresa também não, o que elimina de saída a validade de qualquer nota fiscal legal. Na mesma página um pequeno anúncio oferece, por um preço módico, contra cheques para se conseguir qualquer empréstimo. São contra cheques falsos mas “garantidos”. Resultado: quem está legalmente estabelecido com nota fiscal, CGC e tudo mais que a lei exige não tem acesso aos empréstimos, mas quem se dispõe a exibir um contra cheque falso é muito bem vindo na instituição financeira, que, de uma forma ou de outra, acaba obrigando o consumidor a cometer um ato desonesto., que, convenhamos, parece ser uma espécie de regra geral do país. Esse não é o único e estranho exemplo que os anúncios classificados nos dão diariamente. Tem de tudo nessas pequenas ofertas. Quem, por exemplo, quiser alugar um apartamento e se dispuser a pagar um depósito dificilmente conseguirá o imóvel, mas se esse mesmo pretendente a inquilino “comprar” um dos muitos fiadores “garantidos” oferecidos nas mesmas páginas das ofertas imobiliárias provavelmente conseguirá o imóvel que deseja.
Se você, leitor, é jovem e está procurando emprego perca as esperanças. Nesse estranho país só serve (os anúncios deixam essa exigência bem clara) quem tiver experiência. Mas como adquirir experiência se não se tem a oportunidade de buscá-la através do trabalho? E, paradoxalmente, se você já tem experiência demais, também não serve porque “está velho” e nesse caso é melhor nem sair de casa.
Uma rápida “viagem” através dos anúncios classificados permitirá que se conheça o quanto é estranho esse país que, por isso mesmo, não surpreende com mais nada e deixa cada vez mais forte a pergunta que o grupo musical Ultraje a Rigor faz em ritmo de rock : afinal, que país é esse?
MUITO ALÉM DA
FICÇÃO SEXUAL
Se existe um negócio que não para literalmente de crescer é o da chamada indústria do sexo que, aliás, está cada vez mais ousada e, digamos, liberal. Agora mesmo, por exemplo, paulistas e visitantes estão assistindo ao Festival Mix Brasil (espera público superior a 24 mil pessoas) com a exibição de 104 novos filmes sobre diversidade sexual. Apesar da liberdade sexual conquistada nos últimos anos quando muita gente “saiu do armário”, ainda há temas que ruborizam e criam protestos quando exibem e superam os assuntos ainda considerados tabus. Exemplos: em um dos filmes do novo Festival Mix dois irmão gays tem um caso; em outro filme três atletas de nado sincronizado da França vivem felizes e satisfeitos e no mais polêmico é mostrado o relacionamento entre um rabino e um de seus discípulos, tema que a comunidade judaica ortodoxa, classificou como "ficção científica”. Sei não, mas do jeito que caminham as coisas a realidade anda muito mais surpreendente do que qualquer ficção científica. Em todos os setores.
CARTILHA PREVINE
ASSALTO EM CARROS
No começo andar de carro era um prazer; depois virou uma necessidade imposta pelo corre-corre diário. Agora é um perigo: o constante número de assaltos a motoristas nos sinais de trânsito ou ruas desertas e movimentadas ou criou uma cartilha de prevenção.
Como acontece com as doenças é preciso seguir normas para evitar maiores consequências. Andar de carro virou um problema de saúde. De vida. Para especialistas a medida mais segura na guerra urbana que vivenciamos é se “policiar” para diminuir a possibilidade de ser alvo de uma ação criminosa. De carro ou a pé é fundamental evitar o elemento surpresa e por isso mesmo uma das orientações é não usar o celular no carro com os vidros abertos.
Para sair de casa e enfrentar a guerra urbana que por falta de policiamento se instalou no desgovernado estado que adota como política de segurança apenas a invasão das favelas, todo cuidado é pouco. Para sair de carro não basta aprender a dirigir. É preciso aprender também a proteger-se de assaltos nos sinais de trânsito. Exemplo: diminua a velocidade antes do sinal vermelho já que normalmente o assalto ocorre quando o veículo pára ou diminui a velocidade.
Outros cuidados são necessários. Anote:
1) evite permanecer dentro do carro estacionado o parado na rua, principalmente à noite;
2) mantenha os vidros fechados e portas travadas quando estiver dirigindo;
3) ajuste os retrovisores e fique atento no entorno do veículo;
4) nunca deixe objetos de valor e bolsas expostos no interior do veículo;
5) evite trafegar em ruas com pouco movimento;
6) informe-se sobre trajetos alternativos e pontos de apoio (delegacias, quartéis, patrulhas);
7) se achar que está sendo seguido busque ruas e avenidas com trânsito intenso;
8) desconfie de motoqueiros com caronas e mantenha distância do veículo à frente para caso de uma manobra de fuga;
9) ao parar nos sinais evite a primeira fila e as laterais, que são mais visados pelos assaltantes.
Enquanto as autoridades não garantem à população a tranquilidade pela qual paga, telefones de emergência são úteis no Rio: Linha Amarela - 0800242355, Linha vermelha - – 2584-4245, Avenida Brasil, Auto-estrada Lagoa-Barra, Túneis Rebouças e Santa Bárbara, Mergulhão da Praça XV e Avenida Brasil - 2527-2560.
O pior é que os assaltos acontecem na cara das pessoas que nem se surpreendem porque já acreditam que são inevitáveis. Isso também precisa mudar: a minoria não pode continuar vencendo a maioria.
HAJA PACIÊNCIA:
CELEBRIDADES CANSAM
A televisão até já se acostumou com isso: todo ano aparece alguém dizendo que s novelas vão acabar e estão com os dias contados porque o telespectador cansou do gênero. Todo ano as novelas batem recordes de audiência e provam que estão longe de não mais serem produzidas. O novo “prato do dia” dos pessimistas adivinhos de plantão são as chamadas revistas de celebridades que já enfrentam um “período agonizante”, inclusive nos Estados Unidos, onde a revista Wallpaper, que era um dos símbolos mundiais da mídia no segmento dedicado a celebridades e vizinhança, estaria contando os dias para deixar de circular. A última edição da Wallpaper tem uma capa dedicada ao Brazil (eles insistem em escrever com Z) com uma pequena reportagem indicando lugares considerados transados em São Paulo, no Rio e outros restados. Para conquistar leitores de outros países a capa é rotativa: em cada lugar estampa o nome do país em letras imensas. A edição que muitos consideram a de despedida tem 1/3 de anúncios que tinha habitualmente. A crise estaria atingindo também as editorialmente poderosas Glamour e Gentlemen’s Quarteley. Há quem acredite que é apenas um sufoco passageiro e não exatamente porque o público cansou das revistas, mas sim das repetitivas e chatíssimas celebridades que nada tem a dizer e acrescentar. Lá como aqui.
QUE TAL UM
SAPO BARBUDO
Não há qualquer exagero quando se diz que o Rio é uma festa: está virando um verdadeiro carnaval a escolha daquele que será o nosso símbolo da Olimpíada 2016. Depois da sugestão de adotar o personagem Zé Carioca, dos estúdios Disney, caiu uma chuva de “idéias”: há quem defenda que o símbolo ideal é o Saci Pererê, a criação de Ziraldo considerada brincalhona e que por isso mesmo reflete o humor do brasileiro. Outro grupo briga para a escolha do Pelezinho, o personagem criado por Maurício de Souza. Ninguém fala em criar nada o que, convenhamos, é um desperdício em um país de tantos e competentes artistas gráficos e plásticos. Há quem garanta que em matéria de Olimpíada o Pelezinho está fora do páreo porque poderá ser mascote da Copa do Mundo de 2014. Já o Saci Pererê de Ziraldo leva a desvantagem de estar sendo utilizado como mascote don Sport Club Internacional, do Rio Grande do Sul, do Social F.C. do interior de Minas e do Sergipe F.C. e ainda como símbolo da cidade de Botucatu, interior de São Paulo. Se bobear o Rio acaba adotando (só para fazer ”média”) um sapo barbudo como símbolo da Olimpíada.
NUDEZ COM
CURRÍCULO
Era de se esperar: a estudante Geisy Arruda, que criou fama (mas não deitou na cama...) está na mira da revista Playboy e as negociações começaram (na Playboy é tudo na base do quem dá mais). Embora tenha abundância mais do que suficiente para ocupar até página dupla a revista não a quer sozinha no ensaio fotográfico. A idéia de Edson Aran, o competente diretor da revista, é reunir diversas estudantes universitárias, incluindo as que participaram com o corpo nu de recente protesto realizado em Brasília (tomara que a moda não pegue: a possibilidade de ver senadores, deputados e ministros nus com a mão no bolso – no bolso dos outros, é claro - é trágica). Alunas da Uniban também estão sendo convidadas até porque todo dia a publicação recebe fotos de universitárias candidatando-se a ser uma das playmate da revista. Geisy Vestidinho Arruda ainda não disse se aceita a empreitada, mas está certa de que se o fizer a revista esgotará nas bancas em torno da faculdade da qual voltou a ser aluna, agora famosa (por pouco tempo, é verdade) por conta do machismo de alguns e de um vestidinho que não ganharia nem foto 3 X 4 em qualquer revista de moda ou erótica.
SARNEY SEM ATO
SECRETO. QUEM DIRIA!
Parece inacreditável, mas dessa vez não foi necessário nenhum ato secreto para que o senador José Sarney decidir o destino do acervo da Fundação José Sarney que como muitas outras coisas, fechou as portas por falta de patrocínio e sem apoio (ou seja, grana) é, segundo o senador, “impossível mantê-la em funcionamento”. Nem com todo o seu hoje tanto prestígio o senador conseguiu mexer seus pauzinhos, que é, convenhamos, uma prática muito comum no Brasil. Fechou a Fundação e enviará todo o material para a Fundação Getulio Vargas, no Rio, onde já estão os acervos de Getúlio Vargas, Café Filho, João Goulart, Ernesto Geisel e Tancredo Neves. No “pacote” enviado por Sarney estão documentos, fotos, presentes, recibos e outras recordações da época em que comandou o Palácio do Planalto Sarney só não sabe ainda se destina à Fundação Getulio Vargas as obras de arte. De qualquer maneira todo o material poderá ser visto pelos brasileiros, o que é uma grande vantagem para o discutido senador José Sarney: dessa vez ele não precisará esconder o jogo.
CASACA,
CASACA
O Vasco é com méritos incontestáveis o campão 2009 da série B. Sem essa de segunda divisão porque queiram ou não o Vasco é um time de primeira. Em campo e fora dele. Quando foi rebaixado uma dúvida tomou conta dos dirigentes do clube: qual seria a reação da torcida? Essa torcida fantasticamente apaixonada não mudou de camisa (quem muda de “time” todo o tempo é político interesseiro) e mostrou o forte sentimento vascaíno – o sentimento que não pode parar. O melhor exemplo da força deste sentimento talvez esteja em uma criança: meu neto de 11 anos nasceu e vive em São Paulo, mas não tenho dúvidas em afirmar que é um dos vascaínos mais “doentes” que conheço. Acompanhou todos os jogos do Vasco (a maioria pela televisão, é claro), sabe tudo sobre o time, tem uma invejável coleção de camisas, canetas, agendas, enfim, tudo que estampe a marca vascaína. Quando o Vasco foi fazer uma participação especial na série B achei que perderia um jovem torcedor. Não aconteceu. Até por provocação brinco com ele dizendo que como é paulista acabará torcendo pelo Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, sei lá e argumento que, ele mora em São Paulo, mas a resposta é taxativa: “Vô sou Vasco em qualquer lugar”. Eu também.
CIGARROS NÃO
PRECISAM DE FUMAÇA
É uma boa: que tal trocar o tabaco em forma de cigarro por palitos, também em forma de cigarro e embalados em maços, de cenoura. Essa é a proposta da campanha Stereotype, criada pelo designer chinês Daizi Sheng e lançada há dias na Inglaterra. A campanha pretende combater o vício e mudar hábitos alimentares propondo também trocar as batatas fritas por aipo no mesmo formato. Os cigarros de cenoura e outros produtos saudáveis ganharão embalagens idênticas às utilizadas para alimentos fast-food. O projeto foi criado com base em dados da Organização Mundial de Saúde de produtos não saudáveis que estão entre as principais causas de doenças não transmissíveis. Para reforçar a nova campanha antitabagista o Comitê de Medicina da Inglaterra recomenda aos fumantes que pretendem deixar o vício controlar a vontade de fumar segurando palitos não apenas de cenoura como também de frutas e outros vegetais. A Organização Mundial de Saúde condena o tabaco por ser a principal causa de morte evitável no mundo. Estatísticas revelam que o vício do tabaco atinge 16% dos brasileiros. A mesma estatística mostra que um terço (1 bilhão e 200 milhões de pessoas) da população mundial adulta não fuma. Campanhas antitabagista, incluindo as dificuldades impostas os fumantes entre as quais a proibição de “fazer fumaça” em locais fechados (bares, restaurantes) tem obtido bons resultados: pesquisas já mostram que 25,8% de homens pararam de fumar, o quer ocorreu também com 18,6% de mulheres. Acredita-se que os cigarros de cenoura ajudarão mais fumantes a abandonar o vicio. Cigarros de cenoura podem até ajudar a diminuir o número de homens e mulheres que fumam, mas certamente aumentará o número de coelhos viciados.
O APALADAR
ESTÁ NAS RUAS
Mesmo com as constantes recomendações da Vigilância Sanitária para que se evite o consumo das chamadas comidas de rua (aquelas preparadas e vendidas em quiosques, carrocinhas ou em um balcão improvisado com caixotes) aumenta a cada dia o número de ambulantes que se dedica por absoluta falta de opções de emprego a esse tipo de comércio não só porque a freguesias está ficando maior (é mais rápido e barato comer uma coisinha qualquer em um ambulante do que em qualquer restaurante a quilo que, aliás, costumam ser uma agressão à boa culinária. A Vigilância Sanitária afirma que a comida de rua tem vários vilões e os dois mais comuns são a s frituras preparadas em óleo saturado que potencializa a produção da toxina cancerígena chamada acroleína. O outro grande vilão é a exposição e o preparo de alimentos ao ar livre, o que é um generoso e aberto caminho para bactérias de todos os tipos e, portanto, doenças também.
As úteis recomendações (entre as quais a de procurar quiosques que tenham por perto água potável corrente) não são levadas muito em conta porque é difícil resistir aos muitos petiscos oferecidos em quase todas as esquinas. A recente realização do evento gastronômico Degusta Rio, no Armazém 2 do Cais do Porto, no Rio, deve aumentar o número de ofertas e de vendedores. Esse tipo de comércio não é nenhuma novidade: começou com o a acarajé, que os escravos vendiam nas ruas de Salvador no século 18, permitindo já naquela época, às escravas a garantia do sustento de suas famílias, além da prestação de serviço aos seus senhores. De lá pra cá não mudou muito: de certa forma a escravidão continua e só com o comércio alternativo têm sido possível sustentar a família, além de servir a seus senhores que são os chamados patrões de hoje.
O necessário cuidado na escolha do que comer na rua não acabará com esse tipo de comércio. Afinal, ninguém resiste a um petisco de rua. Mesmo que tenha correr para a farmácia ou o banheiro depois da primeira mordida.
eli.halfoun@terra.com.br
sábado, 14 de novembro de 2009
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