sexta-feira, 20 de novembro de 2009

DOENTES ALÉM DA IMAGINAÇÃO

Que a saúde no Brasil está doente, em estado de coma, não é novidade para ninguém. A televisão e os jornais nos mostram diariamente o caos nos hospitais, a total falta de recursos para que os médicos possam cumprir o juramento de “salvar vidas”. O ser humano é tratado como subproduto, como nada, como se não fosse ninguém. Mas, podem acreditar: o que se vê, geralmente sentado em confortáveis poltronas, na televisão não dá nem de longe para imaginar o que realmente acontece. Tomemos como exemplo o Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que é o maior hospital da América do Sul e também um dos maiores “elefantes brancos” do mundo com seis de seus majestosos e exagerados andares inteiramente desativados por absoluta falta de recursos e pela brasileira mania de grandeza que o cercou durante a sua construção. O resto está ali caindo aos pedaços, tão moribundo quanto à saúde no Brasil. Mesmo assim centenas de pessoas o procuram diariamente na esperança de serem atendidas como deveriam. A partir das seis horas da manhã as filas começam a ficar quilométricas: são velhos e jovens misturados pela mesma dor e pela mesma esperança. No começo da manhã o que se respira por ali é esperança - uma esperança que nem a dor física consegue destruir. O tempo passa, a esperança diminuindo (nenhuma esperança resiste ao tempo e ao caos) e o que se vê a partir daí, são rostos cansados, é gente massacrada pela vida. O que mais impressiona é que, até por falta de opção, ninguém desiste. Desistir como, se não há para onde ir? Os pobres e mal pagos funcionários encarregados de fazer a “triagem” como se todos fossem animais que vão para o abate, até que, justiça seja feita, tentam fazer o melhor, mas é quase impossível fazer o melhor por ali diante da total falta de recursos. A decepção aliada ao quase desespero, é outro sentimento presente naquelas imensas filas de subprodutos humanos . O que mais se ouve é “a senhora ( ou o senhor) tem que procurar um hospital - como se eles funcionassem - perto de sua casa” ou “esse setor está desativado” ou ainda “não temos mais vagas”. Isso sem contar os cartazes colados na imensas portas de vidros avisando principalmente que “não atendemos casos de Aids”
Quem consegue, enfim, passar pela triagem de qualidade, ou seja, a triagem da falta de qualidade de vida, não está livre da peregrinação: a burocracia se encarrega de traçar mais um espinhoso caminho. É fila para isso, é fila para aquilo. São, depois de várias horas de filas, mais algumas horas de pé diante da minúscula sala dos médicos ( geralmente bem intencionados estudantes). O retrato que se vê nos corredores do hospital é o retrato do horror, da dor - um retrato que certamente cria uma situação constrangedora também no comportamento dos jovens formandos certamente desiludidos com os sonhos da profissão que escolheram e que costumam ser tão bonitas nas histórias que a televisão e o cinema nos contam. O que mais impressiona é que, apesar da dor e da inevitável irritação o doente brasileiro se mantém de pé ali e quando finalmente consegue ser atendido por um médico (para ele um Deus) o doente mais do que imaginário ainda consegue sorrir o sorriso de quem recuperou a dignidade humana. É um sorriso meio de alívio, meio de vitória, a vitória de ter sido tratado, finalmente, com a atenção e o respeito que todo ser humano precisa e merece. Mas a peregrinação não chegou ao fim: novas filas, novas exigências burocráticas terão que ser cumpridas para fazer os exames que o médico solicitou e para novamente ser atendido pelo, se possível, mesmo Deus médico. Como se, tristemente, fosse um favor e não um direito adquirido pelo pagamento de anos e mais anos de INSS. O pobre ( e pobre nos dois sentidos) é, talvez, o retrato mais prefeito de um país que tem, demagogicamente, até tentado mas ainda não descobriu a justiça social e nem percebeu que pobre é gente e que merece ser tratado como tal. E não como um subproduto humano - subproduto que se amontoa nos hospitais e nas calçadas de um país que, feliz país, tem um povo que nem assim perde a esperança. Até porque a esperança é a última que morre. Quando o doente não morre antes nas filas dos hospitais...
A N0VA SINFONIA DA
CIDADE MARAVILHOSA

O Rio de Janeiro de encantos mil continua sendo o coração do Brasil, mas a trilha sonora mudou: O som de trompetes e taróis em ritmo alegre de marcha foram substituídos pelo som de tiros – uma sinfonia que nos assusta. Não vamos nos acostumar, embora 70% dos cariocas admitam ouvir tiros de vez em quando, enquanto 30% da população garantam ouvir o barulho de tiros sempre.
Esse é o resultado de pesquisa realizada pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. O estudo traçou um novo mapa da cidade conforme a intensidade do barulho de tiros e destacou que “a existência ou proximidade de favelas são fatores que acendem o sinal vermelho”.
Culpam as favelas, mas não é bem assim: o som da violência não é provocado pela maioria de trabalhadores que habita as favelas. É quase sempre resultado das invasões policiais com seus “caveirões” e armas nos morros ou favelas do asfalto. O estudo revela que “o aumento de freqüência de barulho de tiros e proximidade com locais dominados por traficantes armados levam a interpretar errado o barulho”.
O milhão e meio de moradores das 513 comunidades faveladas listadas pelo IBG até o ano 2000 é de trabalhadores. Por falta de opções de moradia a cada mês surgiu, nos últimos dez anos, uma nova favela com 50 casas. Em 1991 havia 384 favelas no Município do Rio de Janeiro. Em 2000 o número aumentou em 30,2%. No Estado do Rio o número de áreas carentes subiu de 661 para 811 (acréscimo de 22,7%).
A partir desse mapa do som da violência é preciso fazer um outro tipo de barulho para orientar políticas públicas já que a pesquisa reflete a sensação de insegurança dos cariocas.
COMPUTADOR PODE SER
UMA ARMA PERIGOSA
Vamos dar um “enter”, fazer um “download” e reconhecer que hoje é quase impossível viver sem utilizar a informática. Não há dúvida de que nos próximos anos o computador será ferramenta obrigatória para todos.
A informática é a maior revolução da era moderna, mais até do que foi a impressão em 1945 com a descoberta de Gutemberg. A informática permite a maior velocidade de comunicação do mundo: com a Internet hoje é perfeitamente possível enviar uma carta para um milhão de pessoas e percorrer milhões de páginas simultaneamente através de programas de buscas. Isso sem falar na possibilidade de vender livros para um público potencial de mais de cem países.
Também é preciso reconhecer que a informática virou uma poderosa arma em mãos inescrupulosas: através do computador estão invadindo nossas vidas, contas bancárias e nos enchendo de vírus, como se já não bastassem os que andam soltos no ar. Nem é preciso ter computador doméstico para ser um “marginal eletrônico”: estão aí as lan houses (casas de computadores em rede) que permitem o uso e abuso. Permitiam: vigora (mas será que funciona no Rio a lei 5.132 que obriga as lan houses a manterem um cadastro de usuários e a arquivar informações referentes a data,hora, identificação do usuário e terminal do computador.
Mesmo quem é contra qualquer tipo de repressão, certamente reconhece que nesse caso (basta os celulares nos presídios) a fiscalização é o remédio mais eficaz para evitar que usuários mal intencionados façam estragos em vidas honestas de quem usa o computador como uma insubstituível ferramenta de trabalho. Nesse aspecto o Brasil foi o país que registrou o maior aumento no uso de computadores ente 2002 e 2007 com aumento de usuários de 22% para 44%. Hoje temos 60 milhões de computadores em uso e ocupamos a décima posição entre os países com maior número de computadores.
identificação do usuário e terminal do computador.
Mesmo quem é contra qualquer tipo de repressão, certamente reconhece que nesse caso (basta os celulares nos presídios) a fiscalização é o remédio mais eficaz para evitar que usuários mal
ÊATA PAÍS PARADOXAL.
É O BRASIL
O Brasil é um país estranho e, em conseqüência, paradoxal. Primeiro vem o ministro Carlos Lupi, do Trabalho, e anuncia todo orgulhoso que “o Brasil é o único país do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) a gerar mais de 1 milhão de empregos e que o próximo ano o país vai chegar ao saldo acumulado de 2 milhões de vagas”. Convenhamos: não é nada perto do ainda enorme desemprego com que convivemos. Em seguida chega a informação de que o Brasil melhorou (melhorou?) cinco pontos em um ranking mundial que analisa o nível de corrupção entre 180 países. Segundo a organização Transparência Internacional o Brasil deixou a 80ª posição e agora está na 75ª colocação, o que, como diria o Bóris Casoy é uma vergonha. Para a vergonha ser ainda maio está na mesmo posição de Colômbia, Peru e Suriname e atrás do Chile, Uruguai e Costa Rica. Apesar da “melhora” em nível mundial o Brasil continua entre as nações com nível de ocorrência de corrupção (roubalheira é a palavra exata) considerado alto. O índice é calculado com base em pesquisas feitas por instituições de renome, que ouviram especialistas e empresários, convidados a dar sua opinião sobre a percepção que têm da corrupção existente entre funcionários públicos e políticos em seus países. Deve ter sido difícil, muito difícil, achar por aqui alguém que pudesse opinar sem rabo preso sobre isso. Afinal, ainda somos um país de poucos empregos e muitos corruptos.
DINHEIRO NA
MÃO É VENDAVAL
Não dá pra negar: a única coisa garantida na vida, além da morte, é emprego público e não é à-toa que todo mundo quer um não só por causa da moleza que costuma ser, mas também e principalmente porque paga muito bem, não atrasa salários e não manda ninguém embora, como acontece frequentemente nas empresas privadas. Só para ter uma idéia: de janeiro a setembro desse ano os salários dos funcionários federais (na União a boca é ainda melhor) incluindo ativos, inativos, pensionistas, diretos, indiretos intergovernamentais para mais de 2,2 milhões de brasileiros consumiram R$ 118 bilhões. Recente levantamento mostra que a média salarial entre todos os poderes é, hoje, de R$ 6.75 mensais. Os funcionários mais bem pagos sãos do judiciário, com média mensal de R$ 19,1. Em seguida estão os servidores do Legislativo, com média mensal de R$ 12,7 mil enquanto a média salarial do funcionário do Executivo é de R$ 5,4 mil (civil) e R$ 3,8 mil (militar). Sabe quem paga tudo isso?
COM A CORDA
NO PESCOÇO
A nudez da escritora e apresentadora Fernanda Young estampada na revista Playboy não agradou, como era de se esperar, a gregos e troianos (na verdade não agradou nem a us e nem aos outros), mas tem rendidos, além de críticas e piadas, algumas discussões, certamente inúteis. A mais recente se desenvolve em torno dos nós que atam Fernanda em algumas fotos. Agora a gente fica sabendo que os nós são do shibari, técnica milenar japonesa usada artisticamente para amarrar objetos, pacotes ou mulheres como Fernanda fez questão de mostrar. A corda tradicional japonesa utilizada para shibari é de cânhamo e quando é usada para amarração sexual ganha o apropriado nome de kinbaku. Há quem garanta que nas fotos de Fernanda a amarração sexual está mais para origami do que para fantasia sadomasô. Quem bom que esclareceram: como é que íamos poder dormir sem saber disso?
UM JOGO DE XADREZ
QUE NÃO DÁ CADEIA
Acredite se quiser: se Lula pudesse concorrer à Presidência da República ganharia com facilidade. Quem faz essa constatação é o sociólogo e marqueteiro Antonio Lavareda, que acumula enorme experiência com pesquisas e bastidores de campanhas eleitorais. Lavareda revela ainda que “tem cidades com menos de 20 mil eleitores no Nordeste, aonde a aprovação de Lula chega 98% Para quem quer conhecer os bastidores das campanhas políticas Antonio Lavareda lança no próximo 26 um livro considerado imperdível. É “Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais” no qual revela episódios de seu trabalho, especialmente para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2010. O presente também merece análise de Lavareda que, entre outras coisas, diz: 1) não há espaço para novos nomes na próxima eleição presidencial;
2) uma chapa pura tucana formada por Serra e Aécio seria imbatível;
3) Marina Silva levará boa parte da militância petista e
4) a chapa Dilma-Ciro (ele como vice) não daria certo “porque o deputado se comportaria como candidato a presidente e não a vice”.
Política é mesmo um jogo de xadrez e nós, eleitores, somos as peças mais usadas e depois jogadas em um canto qualquer.
LULA O BOM
FILHO DO CINEMA
Antes mesmo de ser visto pelo personagem principal o filme Lula, o filho do Brasil, trilha um incontestável caminho de sucesso: vai virar minissérie, além, é claro, de DVD com venda garantida: será disponibilizado ao público por R$ 10, o que sem dúvida dificultará a venda de DVDs piratas. Lula, o filme será exibido em 432 salas cinematográficas em todo o país. A primeira dama, Marisa, já viu o filme no Festival de Cinema de Brasília, mas o presidente, ou melhor, o personagem principal, só o assistirá no próximo dia 28 nos estúdios da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo. A produção do filme consumiu R$ 12 milhões de reais sem o apoio financeiro da Lei Rounet, mas com a participação de vários de empresários que não se importaram em botar a mão no bolso para ficar bem nas fita. Como não poderia deixar de acontecer Lula, o filho do Brasil, virou tema de blogs nos quais é aplaudido e criticado, além de inspirar piadas. O jornalista Tutty Vasques, por exemplo, diz que o DEM liberou sua bancada para assistir o filme, só que com uma grande ressalva. Quem chorar alto no cinema, será expulso do partido.
O filme sobre Lula está provando todo tipo de reação, inclusive a de inveja: agora é o senador José Sarney que quer botar a cara na telas (quando é preciso ele não dá as caras). O presidente do Senado quer ver sua cara no cinema, mas, como sempre, às nossas custas: a idéia é usar a TV Senado, que ele comanda, para fazer documentários sobre os grandes estadistas brasileiros entre os quais sem modéstia ele se inclui. Sarney também pensa em resgatar um velho documentário (dirigido por Fernando Barbosa Lina) que teve alguns trechos exibidos há dois meses em um canal do Paraná. Agora Sarney quer mais (sempre quer): o plano é exibir o documentário por todo o país em redes de televisão educativa. Que assim deixarão de se educativas.

SÉCULO 21
O FIM DE TUDO?
São freqüentes as discussões sobre o futuro do jornalismo – uma discussão que não deixa de ser necessária, mas que de certa forma acaba sempre deixando de lado um olhar para o futuro do jornalista que vê o mercado de trabalho achatar-se cada vez mais, é mal pago e não tem perspectiva de conquistar uma boa aposentadoria até porque muitos profissionais são obrigados a trabalhar como “frilas” outra imposição do mercado. Vem mais discussão por aí: quem está de volta ao Brasil é Tom Wolfe, criador do new journalism e autor do livro Vaidades que em 1990 virou filme com Tom Hanks, Bruce Willis e Melanie Greiffith. Tom Wolfe, que participou, recentemente, do Festival Literário de Paraty promete palestras interessantes e confessa sua preocupação com três temas e revela que “se a genética diz que somos todos resultados de uma programação, não existe livre arbítrio e não temos culpa de nada". Outra preocupação de Wolfe é com o avanço da pornografia e ainda e com a defesa de Nietzche: “ele previu o nazismo, as duas Guerras Mundiais e a falência total dos valores no século 21”. Quer dizer: estamos a caminho do fundo do poço.
eli.halfoun@terra.com.br

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