segunda-feira, 13 de maio de 2013
CONTO ----------------- Pés de anjo
Não foi o sorriso, que deixava aparecer lindos e perfeitos dentes brancos nem o bem cuidado cabelo preto e liso e muito menos o bem moldado corpo que aparecia completo naquele shortinho azul de jeans, o que fez Jairo ficar ligadão na Juliana. O amor à primeira vista flechou seu coração e seu tesão quando ele olhou para os pés de Juliana, mas não sem antes examinar também e atentamente a bundinha que, por sinal, era linda, mas aqueles pés eram divinos.
- Como seria bom - pensou Jairo - gozar para eles.
Era noite de verão (quase 40 graus) no Rio e Jairo estava com amigos num quiosque de beira de praia quando viu Juliana, ou melhor, viu aqueles pés que brilhavam como uma jóia rara numa sandália dourada e entrelaçada na batata das pernas de Ju. Jairo endoidou e só faltou abaixar-se para beija -los publicamente ali mesmo naquele calçadão com a lua prateada como testemunha. Juntaram as mesas (Juliana também estava com umas amigas) e a noite virou festa, como, aliás, acontece sempre no calçadão em Ipanema, no Rio. Jairo e Juliana ficaram juntos e passaram a noite inteira conversando entre si, como se não houvesse mais ninguém nas mesas. Vez por outra Jairo olhava disfarçadamente para o chão e endoidava de prazer só em olhar, mesmo que, por enquanto apenas discretamente, aqueles maravilhosos pés que, jurava em pensamento, ainda seriam seus. Todos na mesa perceberam que estava nascendo um namoro entre Juliana e Jairo. Na despedida marcaram encontro para o dia seguinte e o namoro engrenou. Sempre que ia encontrar-se com Juliana, Jairo pedia:
- Vem de sandália, vem...seus pés são lindos e eu gosto de ficar olhando
A admiração (ou seria tara?) por pés nasceu em Jairo quando ele começou a trabalhar numa sapataria, onde ficava o dia inteiro experimentando os mais variados sapatos nos mais variados pés femininos e, ossos do oficio, também em alguns homens. Eram raros, é verdade, os homens porque Jairo fazia de tudo para livrar-se dos fregueses masculinos. De noite, em casa, chegava a pensar nos pés mais bonitos do dia e se masturbava como um adolescente.
O namoro com Juliana engrenou e menos de um mês depois estavam morando juntos. Não exatamente morando, mas quase isso já que a semana inteirinha dormiam juntos, um dia no apartamento dele, outro no dela. Mantinham assim a individualidade. Mas agora Jairo fazia exigências: não queria mais que Juliana saísse de sandálias . Aqueles pés maravilhosos eram só dele e ninguém mais poderia vê-los para não sentir o mesmo e louco tesão que ele sentia e que mostrava todas as noites. Mal Juliana entrava (agora vinha de sapatos fechados) no apartamento de Jairo ele começava a beijar aqueles pés. Fazia na verdade um strip-tease tirando devagarinho o sapato, depois e lentamente as meias para mergulhar de boca entre aqueles dedos, que beijava avidamente um por um. Chupava com sofreguidão o dedão, o do pé direito, depois o do esquerdo e fazia declaração de amor:
- Como eu amo vocês.
Na cama rolavam outras coisas e Juliana pedia sempre com carinho:
- Entra pela portinha de trás - oferecia aquela redondinha bundinha que Jairo comia com prazer, mas alertando:
- Seus pés é que me deixam louco.
Dava sempre um jeito de enfiar o pau entre o dedão e o do lado de Juliana e era ali que gozava aos borbotões.
Tinha prazer em ver seu líquido branco, como dizia, escorrer por aqueles dedos como se fossem pedras moldadas pela natureza numa cachoeira. De vez em quando enfiava o pênis entre os dois pés de Juliana e pedia que ela os mexesse como se fossem um corpo e também assim gozava com um prazer que não sentia em outra forma de relação sexual. Jairo adorava também quando Juliana passava os pés na sua bunda cabeluda e arrepiava-se inteirinho quando ela roçava o dedão em seu rego, mas enfiar nem pensar. Nem mesmo aquele pé divino.
Juliana já tinha embarcado inteiramente no fetiche de Jairo e fazia questão de cuidar direitinho dos pés. Foi aí que deu azar: procurou um desses muitos japoneses que fazem mocha (aquele bastãozinho de ervas que pega fogo na pele da gente) para relaxar ainda mais os pés e dar mais prazer para Jairo. A falta de sorte estava escrita: o japonês errou o tratamento e deixou marcas terríveis nos dois pés de Juliana, que quase foi ao desespero, mas não tanto quanto Jairo, que chorou quando viu aqueles pés carimbados com fortes marcas vermelhas de queimadura. Ainda tentou ser legal com Juliana dizendo:
- Não tem importância, a gente supera, a gente se vira...
Não adiantou. Jairo sabia que agora todos teriam nojo dos pés de Juliana, o mesmo nojo que ele sentia todas as noites e que o fazia desesperar-se. Os encontros foram diminuindo e, fatalmente, o namoro foi para o espaço.
Agora Juliana, que continua linda, só anda de sapatos fechados (procura esconder ao máximo os pés) e Jairo está fazendo um curso rápido de calista e pedicuro, não em busca de emprego mas buscando, isso sim, novas paixões. Na verdade procura os pés que Juliana perdeu. E ele perdeu muito mais...
ELI HALFOUN
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário