sexta-feira, 30 de outubro de 2009

SORRIA. ISSO É VIDA
Definitivamente botequim, essa deliciosa e democrática mania carioca, não é apenas balcão para se embebedar, esquecer a cruel preocupação com o colesterol, fazer o tempo passar e jogar conversa fora. É nos botecos que se aprende mais e melhor a vida que a vida tem pra nos dar. Conversas de botequim, de gente geralmente humilde (só os humildes conseguem ser absolutamente verdadeiros porque não precisam mentir para si próprios) costumam refletir o pensamento da população e através de papos que a princípio os consideramos sem sentido nos fazem aprender e pensar. Principalmente aprender a pensar.
Abastecidos com uma cerveja gelada, dois homens conversam no balcão do boteco da esquina. Falam alto (em botequim, repare só, todo mundo fala alto, talvez porque ali todos queiram ser democraticamente ouvidos). Um dos homens, copo na mão, reclama: “Falta de sorte, cara. Só ganhei 20 mil no sorteio da loteria”. O amigo, que também deve ser um "reclamão", nem estranha essa reclamação. Apenas comenta: “Tá doido, cara? Ganhou e está reclamando!”. O premiado responde quase infeliz: “Tô sim, o premio total era o dobro e só ganhei essa mixaria”.
Talvez seja um “papo maluco”, mas pensando bem tem tudo a ver com cada um de nós: virou quase que uma obrigação reclamar de tudo. Até da sorte. Tudo bem que reclamar é fundamental desde que as reclamações tenham sentido coletivo, mas, vejam só que nossas constantes e diárias reclamações estão sempre voltadas para o próprio umbigo. Reclama-se do trabalho, da própria casa, da mulher, dos filhos, do calor e, se faz frio ou chove, reclamamos da chuva e desse tempo gelado que não tem nada a ver com um Rio de Janeiro sempre emoldurado pelo sol.
Na conversa alheia do botequim reparo e me convenço de que está mais do que na hora de parar de reclamar de qualquer besteira. As mais completas lições de vida estão nas ruas, nos botecos. Preste atenção: logo ali na esquina tem um camelô suado, cansado, gritando já sem voz, mas que nem assim perde o ânimo. Talvez fosse mais feliz se não precisasse, como, aliás, quase todos nós, trabalhar, trabalhar, trabalhar para, ainda assim, viver mal. Apenas sobreviver.
As dificuldades, evidentemente mais para uns do que para outros, estão aí e são inevitáveis. São elas que movimentam a vida e nos fazem continuar. É por isso que nas lições das ruas, dos botecos da vida, precisamos aprender a parar de reclamar olhando apenas para o próprio umbigo. Não, não se trata daquele velho, geralmente demagógico, discurso de que é preciso ver a vida pelo lado otimista, o lado positivo das coisas. Mas convenhamos que somente parando de reclamar de qualquer coisa é que será possível e permitido viver mais e melhor. Nada de acomodar-se diante de situações negativas, mas é preciso saber que reclamando menos será muito mais fácil e gostoso, enfrentar o dia. Todos os dias.
Comece a prestar atenção nos papos de botequim, nas pessoas que andam apressadamente pelas ruas. São elas que nos mostram a verdade. Ilustram a vida com vida.
A primeira e importante lição talvez seja a de que em vez de chorar com a queda importante é aprender a rir do tombo. Transformar qualquer queda, qualquer dificuldade, em um engraçado tombo, em um escorregão que nos faz tropeçar, mas não necessariamente cair. Só assim até a cerveja que tomamos no botequim da esquina terá mais sabor.
* A vida também
DÁ NA MESMA
A idéia é antiga, mas tudo indica que dessa vez a Câmara Municipal do Rio de Janeiro vai mesmo mudar de endereço: a sugestão do competente vereador Stephan Nercessian é que a nova Câmara se instale na Zona Portuáiia, em prédio a ser construído (aí é que mora o perigo) porque isso ajudaria a revitalizar o local para o qual a Prefeitura tem anunciado muitos projetos. Acredita-se que com a revitalização da área e a presença da nova Câmara Municipal o número de ladrões diminuirá significativamente. Quando soube disso um escolado eleitor não fez por menos: “vão apenas trocar uns pelos outros”, o que evidentemente não inclui todos os vereadores, inclusive porque alguns realmente trabalham em benefício próprio, é claro, e da população. Se a sugestão de mudança for aceita, o atual prédio da Câmara (Praça Floriano, sem número, Cinelândia) poderá ser transformado em museu. Não é só: nos corredores da Câmara, onde sempre se fala muito, corre também o papo de que está em estudos a idéia da CMRJ criar seu próprio Fundo para que as final de cada ano a Câmara não tenha que devolver dinheiro para a Prefeitura, o que provocou outro comentário do eleitor escolado: “Vai ser um fundo sem fundo”.
A BOLA DA VEZ
Até quem não gosta de tênis (não confundir com a velha piada dos dois portugueses que foram jogar tênis e voltaram descalços) está mobilizados para ver a jogadora Maria Sharapova ao vivo: ela estará em São Paulo nos dias 6 e7 de dezembro para jogos demonstração na Fazenda Boavista. O interesse em torno da tenista russa se justifica plenamente: foi eleita pela (quem diria!) revista americana People uma das 10 mulheres mais bonitas do mundo. Como se não fosse suficiente está também entre as mulheres mais ricas do esporte com uma fortuna calculada em US$ 15 milhões. Ela não come criancinhas. Só adultos.
A SAÚDE DO POVO TEM REMÉDIO
A saúde da maioria do povo em mãos dos falidos hospitais públicos espalhados pelo país. Parece que a “doença” dos hospitais, quase todos em fase terminal, não tem cura. Por isso mesmo até o mais pobre dos mortais faz todo tipo de sacrifício para poder pagar mensalmente as extorsivas prestações que lhe darão a garantia (nem sempre tão garantida assim) de atendimento através de um plano de saúde, mesmo que seja uma espécie de INSS disfarçado.
Os planos de saúde ditam as regras do mercado impondo preços e severas “leis” sempre prejudiciais a quem paga – como se estivesse fazendo um grande favor ao associado que é quem sustenta (pagando alto, muito alto) os planos - esses mesmos planos que acabam impor um novo (e como sempre abusivo) aumento cobram muito, mas pagam mal aos médicos e laboratórios. Quer dizer: não prestam nenhum serviço. Só querem lucros. E cada vez mais.
O ministro Temporão, da saúde, (ou aquele seria um Ministério das Doenças?) até se empenha em melhorar o cada vez mais necessário atendimento público de saúde. Não faz muito tempo anunciou ter conseguido verba de dois milhões de reais para aplicar na reforma de hospitais. Enquanto a saúde não é tratada como um bem realmente público (e aí ninguém precisaria de plano de saúde) muitas empresas oferecem já aos empregados (cobrando, é claro) as “regalias” de um plano médico, como se tratar da saúde da população fosse um imenso favor e não uma obrigação.
O governo tem subsidiado tantas coisas que talvez a pergunta até caiba: não seria mais lógico e eficiente subsidiar para o povo os Planos de Saúde? O governo pagaria uma parte (como já faz com várias outras coisas), as empresas a outra e assim a população estaria bem atendida. Não precisaria mais sofrer e morrer nas filas dos também doentes hospitais públicos.
POVO SÓ PELA TELEVISÃO
Programas populares de televisão não servem apenas para alimentar críticas. Também funcionam como um bom reforço político na hora de tentar conquistar o voto do povo. Que o diga a ministra-candidata Dilma Roussef: por conta de seu fraco desempenho nas pesquisas (continua com apenas 16% das intenções de votos) a preferida do presidente Lula fará um verdadeiro e nada invejável “tour” pelas atrações (?) televisivas que a crítica não suporta. Atendendo sugestão dos marqueteiros envolvidos em sua campanha Dilma visitará, entre outros, os programas Superpop (de Luciana Gimenez); Mais Você (de Ana Maruá Braga); Brasil Urgente (de José Luiz Datena) e os humorísticos (o que não quer dizer que os outros também não sejam) A Praça é Nossa (SBT) e Show do Tom (Record) no qual Tom Cavalcanti a receberá imitando o presidente Lula. Dá até para reforçar a desconfiança de que eleição pode ser uma grande piada.
Essa não será a única tentativa para que Dilma Roussef melhore seu, digamos, desempenho: está tentando buscar também orientação de Ben Self, o marqueteiro americano que comandou a campanha de Barak Obama pela internet. As primeiras conversas não foram nada animadoras: Ben Self, que trabalha com uma grande equipe, cobrou nada mais nada menos do que US$ 10 milhões para pilotar a campanha da ministra=candidata via internet. Mais uma conta pra gente pagar.

MAIS UM CALOTE.TÁ
VIRANDO MANIA
A direção da Rede TV está rindo à-toa, mas não se pode dizer o mesmo dos ex-funcionários da Rede Manchete de Televisão que só tem motivos para chorar: decisão do Supremo isenta os novos proprietários (Amilcare Dallevo e Marcelo Fragalli) de responsabilidade sobre a dívida trabalhista da ex-Rede Manchete com seus hoje desempregados funcionários. A batalha judicial vinha se desenrolando nos últimos anos (parte do dinheiro reclamado era depositado em juízo). A decisão não livra a Rede TV do banco dos réus trabalhista: são muitos os processos de funcionários que por lá passaram recentemente. Uma pergunta precisa urgentemente resposta: se a Rede TV não tem responsabilidade sobre a dívida trabalhista da antiga TV Manchete com seus funcionários, quem é que vaio pagar essa conta? Mais uma vez a corda arrebentará do lado mais fraco. Ou seja: dos trabalhadores.
QUEM DÁ MAIS
Cada um se desaperta como pode: enquanto a classe média corre para o penhor da Caixa Econômica quem está acima, muito acima, disso adere ao que já se pode considerar um novo modismo: o leilão de jóias. As de Lily Marinho,leiloadas recentemente no exterior, bateram, um recorde de faturamento. Agora é a vez de Lucia Moreira Salles, ex primeira dama do Unibanco (foi casada com Walter Moreira Salles) leiloar as suas tão preciosas jóias, o que acontecerá breve, muito breve, na Sotheby’s de Nova York. Espera-se um novo recorde no pregão já que são jóias de quem era “refinada, elegante e glamurosa”. São jóias com grife: criações Cartier, Van Cleef & Arpels, Bulgari e Jar. Especialistas garantem que cada jóia está valendo no mínimo US$ 200 mil.Como se vê a crise financeira mundial não livra a cara (nem o pescoço dos colares, os punhos das pulseiras e os dedos dos anéis) de ninguém. Perdem-se as jóias, mas não se perde a pose.

BOA DE LIVRO, BOA DE CAMA
Enquanto nossos escritores penam um bocado para vender seus livros (o brasileiro ainda não tem o saudável hábito de ler) a americana Stephenie Meyer deita confortavelmente em um punhado de papéis, no caso as verdinhas notas de dólar: é a recordista na lista de livros vendidos no Brasil. Cinco de seus livros estão entre os 10 de maior sucesso de vendas na categoria ficção: a série Crepúsculo, sobre os novos vampiros, vendeu nada menos do que 2,5 milhões até o ano passado. Stephenie está partindo para mais um recorde com A Hospedeira, sobre alienígenas, que em apenas duas semanas superou a marca de 65 mil exemplares e inspirou dois subprodutos, um dois quais "O Livro de Anotações", de Catherine Hardwick, a diretora da adaptação de O Crepúsculo para o cinema.
No Brasil sucesso literário, que nunca é dos maiores, não depende só de qualidade (e não nos faltam bons produtos nacionais). Um inesperado exemplo de sucesso é O Doce Veneno do Escorpião, escrito por Raquel Pacheco, a ex-prostituta Bruna Surfistinha, que chega ao mesmo tempo ao cinema com filme estrelado por Deborah Secco e dirigido por Marcos Baldini, e ao teatro: o diretor e crítico de cinema Rubens Ewald Filho promete estrear breve (e com cenas bem realistas) a adaptação de Doce Veneno (será também o título do espetáculo) para a qual o Ministério da Cultura autorizou a captação de R$ 2 milhões pela Lei Rouanet. Como se vê é na cama que ainda se fazem os melhores negócios.
A BOLA É DE TODOS
Considerado (com apenas 35 anos) velho e superado para o futebol Dejan Petkovic, o Pet dos torcedores, calou com uma inegável habilidade (parece até que é brasileiro) a boca dos que não o queriam mais no Flamengo porque é um velho que nada mais tem a oferecer”. A lição de que nunca se deve duvidar (e muito menos menosprezar) qualquer profissional não é a única que Pet nos deu e dá. Não digo isso com nenhum sentimento de orgulho rubro-negro até porque sou vascaíno e serei sempre na primeira, segunda, terceira divisão, onde o Vasco estiver. Mas torcer por um time não pode nos limita a aprender as muitas lições que o futebol costuma nos oferecer. Petkovic, por exemplo, está mostrando que os velhos (ele só é considerado velho para o futebol) podem surpreender em qualquer profissão, mesmo quando ,como é o caso da maioria, desacreditado. A bola que hoje rola fácil nos pés de Petkovic pode ganhar outro formato nas mãos (e pés) de outros “velhos” profissionais em qualquer trabalho ou profissão. Basta rolar outra vez a bola para eles, que só são realmente velhos porque a sociedade quer.
A CAIPIRINHA É NOSSA
A cerveja e o chope continuam sendo as bebidas preferidas do brasileiro (o Brasil está entre os cinco maiores consumidores do mundo do chamado precioso líquido, que também entra da lista de melhores cervejas mundiais), mas parece que qualquer mistura está valendo para justificar um generoso gole, mesmo que seja de um desses explosivos e geralmente muito ruins coquetéis. Na onda de misturas estranhas a nossa caipirinha ganhou vodka e frutas de todos os tipos e sabores, mas nada supera a verdadeira e tradicional caipirinha brasileiríssima preparada de maneira simples e saborosa. Nessa onda de misturas estranhas (há quem chame de exóticas) a caipirinha ganhou vodka e frutas de todos os tipos e sabores. A receita original é essa: limão verde cortado em oito pedaços, sem o miolo, esmagados em um copo com duas colheres (café) de açúcar, combinados a duas doses de cachaça.
Como beber também é cultura e não só desculpa façamos um brinde ao surgimento da caipirinha: a receita foi criada entre os escravos (naquela época nem, se sonhava com barman) que trabalhavam nos engenhos de cana de açúcar do Brasil colônia. Nos anos 1920, quando estava mais aprimorada, caiu no gosto do escritor Oswald de Andrade que a transformou na bebida da moda entre os intelectuais. Vai ver é para parecer intelectual que muita gente bebe.

elii.halfoun@terra.com.br

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