sábado, 28 de dezembro de 2013

CRÔNICA ------ Menos é mais

Quem menos tem é que mais tem para dar. A afirmação pode parecer meio louca e sem sentido, mas é exatamente isso que a vida nos tem mostrado nas ruas quando se trata de apoio e de solidariedade. É sempre alguém que quase não tem nada que está disposto a ajudar aos que precisam mais do que ele. Parece até a música de Caetano Veloso fazendo com que dois e dois sejam cinco. É como se o apoio de quem quase nada tem, pelo menos em termos materiais, para oferecer, ganhasse uma soma maior a cada gesto, a cada palavra, a cada iniciativa. Nunca é o que está em situação bem melhor que ajuda a quem precisa. É sempre o pobre, que se faz rico em solidariedade, quem auxilia o pobre, o necessitado. O rico (e nem precisa ser tão rico assim) sempre passa batido como se nada estivesse acontecendo e com um ar de “eu não tenho nada a ver com isso”. As ruas, que escrevem formam o mais interessante e completo livro da vida, estão repletas de exemplos diários do quanto o que menos tem é quem mais tem para dar. Talvez porque saiba melhor do que ninguém, o quanto é importante dividir o pouco que tem Esse se faz, como mostram exemplos diários nas ruas, muito, mas muito mesmo, de amor ao próximo. Querem ver: um jovem (com no máximo 30 anos) vestido discretamente, não agüenta mais o cansaço, a fome, a sede e, principalmente a falta de esperança. Acaba desabando na calçada. Tomba como se tivesse perdido a batalha para a vida, para a busca de um emprego qualquer. O rapaz, suando em bicas, fica ali encostado no muro de um edifício, como se fosse seu único apoio As pessoas passam, cada uma mais voltada para o próprio umbigo, e nem olham para o rapaz que está visivelmente mal, sofrendo, quase chorando. A ajuda chega de onde menos se podia esperar: dois operários que trabalham por perto na pintura de um prédio, é que correm em socorro do rapaz. Trazem água, providenciam imediatamente um pedaço de pão e com uma carinhosa atenção ficam sabendo que o rapaz está caminhando desde o início da manhã em busca de emprego. Saiu de casa no longínquo subúrbio sem café, sem nada. Apenas com a força der uma esperança que agora também se esvai. Os operários providenciam mais água, mais pão, mais força para o rapaz que está visivelmente sentindo-se humilhado. Não quer esmola. Quer apenas a oportunidade de trabalhar e viver o mais dignamente que o miserável salário possa permitir. Um dos que o socorre quer, mesmo podendo pouco, fazer mais e oferece: “eu só tenho dois reais. Fica com eles. Pelo menos assim você pode pegar um ônibus para chegar mais perto de casa”. Se casa ele tiver O rapaz que passa mal (bebeu água, comeu pão, recebeu apoio e carinho) está melhor. Não aceita o único dinheirinho do operário disposto a ficar sem nenhum. O rapaz levanta, agradece, enxuga o suor com as costas da também suada mão e segue em frente. Talvez mais adiante caia outra vez. Novamente levantará porque sabe que é preciso seguir em frente. Agora sabe também que poderá contar sempre com o apoio dos que menos tem e têm mais para dar. Que bom se com o novo ano todos aprendessem que o menos sempre pode ser mais (Eli Halfoun)

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