terça-feira, 24 de maio de 2011

CRÔNICA ------- Olho no olho

“Sincero é quem fala olho no olho”, “Seu olhar traduz tudo o que você quer dizer”, “Você tem os olhos mais lindos que já vi”, “Basta olhar para você para saber o quanto de te amo” – expressões comuns como essas estão saindo de circulação desde que a conversa “olho no olho” perdeu espaço para palavra escrita. É um estranho comportamento imposto pela internet: ao mesmo tempo em que nos aproximou do mundo e de pessoas, paradoxalmente o mecanismo virtual também nos afastou das conversas “ao vivo”. Hoje a preferência é utilizar a informática para se comunicar digitalmente através do facebook, twitter, SMS, e-mail e tudo o que nos permita dizer por escrito o que nossas bocas não dizem mais. Se por um lado é verdade que é possível encontrar em qualquer parte do mundo um amigo ou um parente distante, é verdade também que a internet afastou as pessoas de encontros pessoais, de uma linguagem mais coloquial.
Para os que não tem coragem de dizer pessoalmente o que sentem e pensam a internet é perfeita: escreve-se o que quer, mas por mais que se utilizem palavras rebuscadas (ás vezes nem tanto) a emoção de quem lê não é e jamais será igual da que se sente quando se diz e ouve pessoalmente. Guardando as devidas proporções pode-se até dizer que a internet é a arma dos covardes, dos que preferem mandar recados a falar “olho no olho”.
No corre-corre diário de um mundo cada vez mais moderno e ao mesmo tempo mais antigo não há como fugir da realidade que é a quase obrigatória utilização da linguagem virtual. Ela é perfeita sim para tratar de negócios, para informar e pesquisar. Dizer o que não se tem coragem de falar pessoalmente, mas nunca será tão importante quanto a emoção da palavra que se faz ouvir. Essa é e sempre será muito mais forte, mais autêntica e sincera.
Não é preciso fugir das facilidades de comunicação oferecidas pela internet, mas é necessário ficar alerta para não permitir que a palavra escrita ganhe espaço definitivo e nos afaste mais uns dos outros. É bom não esquecer que primeiro aprendemos a falar para só depois aprender a escrever. Não dá para desaprender a falar para apenas escrever. (Eli Halfoun)

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