quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
O DESAFIO É A VIDA
Eu não tenho que
me defender dos bandidos. Como todo cidadão que mora nesse violento estado
tenho sim que tomar precauções para evitar ser mais uma vítima da violência.
Minha proteção, assim como as de todo o cidadão, está nas mãos da polícia e ela
sim tem que estar armada. De preferências muito melhor do que estão os
bandidos.
O dia a dia nos tem mostrado que
nas mãos de quem não sabe usá-la a arma é um brinquedo perigoso, muito
perigoso. E eu não quero arma nem de brinquedo nas mãos de nenhuma das minhas
crianças. Não posso fazê-las crescer sem perceber a triste realidade da
existência de armas mas posso, sim, evitar que cresçam achando que o revólver é
a salvação. Até de brincadeira a arma,
qualquer arma, pode ser mortal.
Todo dia me recordo – e ainda com
um imenso pavor – da noite em que uma brincadeira entre amigos quase me alvejou
com um tiro certeiro e que certamente seria fatal. Em seu belo apartamento no Leblon
um querido amigo fez questão de me mostrar o revólver novo de sua inútil
coleção. Era, dizia com orgulho, uma arma maravilhosa ( como se alguma arma
pudesse ser maravilhosa)… Colocou o revólver na minha mão garantindo que estava
sem bala. Apavorado ( até arma de brinquedo me assusta e essa não era...)
devolvi imediatamente o revólver e meu amigo insistiu: “está sem balas, pode
puxar o gatilho”. Não puxei, mas ele, apontando primeiro para meu peito a menos
de um metro de distância, e depois para a imensa e fechada janela do
apartamento, insistiu: “está sem bala,
quer ver” e puxou o gatilho. Não estava. O vidro da janela se espatifou pelo chão, meu amigo, branco como a morte,
não sabia o que dizer e nem eu iria
ouvir tão apavorado estava. A brincadeira podia ter se transformado em
tragédia. Como sempre acontece quando uma arma entra na “conversa”.
Não vamos discutir aqui o democrático
jogo do sim e do não. Minha opinião ( concordo que cada um deva ter
democraticamente a sua, seja qual for) será dada nas hora certa e na urna. Não
será uma opinião de decisão política mas
sim uma opinião humana,. Que é a que mais vale nesse e em todos os momentos.
Ouço - e ouço com atenção - todos os argumentos do sim e os do não. Mas estou
convencido que uma arma não me livrará de nenhum bandido. Pelo contrário. Quem
tem que me livrar dos bandidos é a polícia – essa assim armada até os dentes.
Mesmo nas inocentes brincadeiras de
criança aprendemos que armas são perigosas e até assim brincamos de matar uns aos
outros sem perceber que é essa a realidade e a finalidade da arma. Arma foi
feita para matar.
* Não para viver
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