domingo, 8 de fevereiro de 2015

MAIS VIVO DO QUE NUNCA

                      

                      Do outro lado do balcão do pequeno e movimentado bar de uma movimentada rua de Copacabana, no Rio, a  sorridente,  jovem e bonita garçonete me atende mais sorridente e animada do que nunca. Entusiasmada vai logo  mostrando o motivo de tanta animação: está, com o jovem  marido, quase conseguindo realizar o sonho da casa própria - sonho que, aliás, é o maior de da maioria dos brasileiros que não tem onde morar e que por isso mesmo são explorados, como em tudo por aluguéis extorsivos. A quase concretização do sonho deixa a garçonete alimentando mais um sonho : o de fugir da Zona Sul e no  distante subúrbio reencontrar a tranquilidade de morar razoavelmente e, mais do que isso, fugir da violência ( como se ela só existisse na Zona Sul) para buscar a solidariedade no contato com os vizinhos, com a família, que agora terá espaço para ser recebida. Tem lá as suas razões a sonhadora garçonete: os apertados e amontoados apartamentos da Zona Sul fizeram,  por mais paradoxal que possa ser, as pessoas se engaiolarem e fugirem uma das outras. Já se foi o tempo em que a vizinhança era fundamental, como ainda é no subúrbio, e necessária. Hoje, em edifícios que mais parecem caixotes em cima de caixotes com, às vezes, até 34  apartamentos por andar, ninguém conhece ninguém e é mesmo impossível conhecer a multidão que circula por ali diariamente, num entra e sai intolerável e insuportável .As pessoas andam tão amedrontadas e por isso mesmo tão defensivas que o pensamento mais constante é de que o vizinho do lado pode ser um inimigo. Nunca um amigo.
            O contagiante sorriso da bonita garçonete que, de certa forma, abastece de álcool a solidão dos fregueses do pequeno bar, me mostra o quanto o sonho é fundamental na sobrevivência do ser humano. Diante de tudo o que se  tem visto e ouvido diariamente, diante das dificuldades cada vez maiores impostas pelo dia a dia o sonho é só o que, na maioria das vezes, nos resta: o sonho de um futuro melhor, o sonho de, quem sabe, ganhar na loteria ( em qualquer uma  muitas que andam por aí e que fazem da vida um verdadeiro jogo), o sonho fundamental de encontrar a felicidade total, se é que ela existe, o sonho de amar e ser amado ( não existe, até porque não resiste, amor sem troca). Enfim a vida só é completa se estiver recheada de sonhos e, portanto de esperança. Todo sonho está sempre carregado de esperança e é exatamente isso o que vejo e entendo no sorriso da garçonete que está prestes a realizar um sonho e que vai fatalmente construir, a partir da realização do sonho da casa própria, muitos outros sonhos. Exatamente porque todo o sonho é no fundo uma enorme e sempre necessária esperança é que se faz fundamental  sonhar. E sonhar cada vez mais. Sem sonhos não existe  esperança e sem esperança não existe vida. Continuemos, portanto, sonhando, cada vez mais, com a casa própria, com o melhor patrão, os melhores amigos, o mais sincero amor, a mais completa felicidade. Enquanto houver capacidade de sonhar haverá sempre  possibilidade de realizar esse sonho e, portanto, de viver.
* Mesmo que viver seja, às vezes, apenas um sonho.

                                   

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