quinta-feira, 1 de maio de 2014

Uma discussão sem oportunismo. Apenas com o coração

O “Esquenta” elevou sua audiência com o programa em homenagem ao dançarino DG. Quem conhece Regina Casé sabe que em nenhum momento ela esteve preocupada com a audiência do programa, mas sim e unicamente em discutir uma questão que há muito atinge os jovens da periferia brasileira, que estão sempre com a vida ameaçada, como, aliás, andamos todos nós. Do ponto de vista meramente profissional não se pode deixar de reconhecer que Regina e sua equipe foram perfeitos e ágeis ao produzirem um programa às pressas para substituir o que estava gravado. Certamente há quem pense que a atriz e apresentadora foi oportunista. Não foi: ao longo de suas carreira Regina sempre esteve “antenada” com os jovens da periferia (o “Esquenta” é um exemplo disso) aos quais procurava auxiliar e dar pelo menos oportunidades artísticas de trabalho. Não houve também ao contrário do que muitos pensam oportunismo da apresentadora (ela nem precisa disso) e do programa e nem a intenção de transformar o jovem e alegre DG em um mártir. Tenho certeza de que o que se pretendeu foi colocar em discussão a busca de uma solução para que os jovens brasileiros tenham o direito de viver e de viver com uma dignidade que a sociedade de uma maneira geral não permite. DG não é o único jovem morto deforma ainda não esclarecida e muito estranha. Os jovens da periferia são sempre alvos para as chamadas balas perdidas que de perdidas não trem absolutamente nada: sempre encontram alguém pelo caminho. Evidente que DG não foi o primeiro e alegre jovem a perder a vida em uma comunidade. Muitos outros morreram (não podem continuar morrendo) e se nunca ganharam um programa de homenagem é porque não haveria espaço para falar de tantos jovens eliminados da vida estanha e precocemente. Foi preciso que um jovem conhecido através da televisão morresse de forma tão estúpida para conquistar depois da morte um espaço que também tinha conquistado em vida. A história está repleta de exemplos: muitos inocentes morreram para que um assunto entrasse na pauta da qual jamais deveria sair. É claro que outros jovens de periferia continuarão pagando com suas vidas a triste condição humana em que são criados e vivem até serem atingidos por uma bala nem tão perdida, mas sim desperdiçadas de forma desnecessária. DG foi apenas o foco de uma discussão que anseia por uma solução e Regina Casé foi a porta-voz que refletiu a voz de todos na homenagem e na necessária discussão que não pode ser atingida por uma bala perdida. (Eli Halfoun)

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