terça-feira, 3 de abril de 2012

CRÔNICA ---- Sabor carioca

Mesmo que alguns tradicionais botecos estejam usando agora terríveis cadeiras e mesas de plástico ou as de ferro que com o tempo exibem muito mais ferrugem do que pintura ainda é possível encontrar no Rio os botequins que conservam cara de botequim com suas mesas de tampo de mármore, cadeiras de madeira e decoração que dispensa os exageros visuais propostos pela moderna decoração. Através dos botequins de verdade é possível contar a história da cidade viajando em sabores que só os botecos possuem e em famosos freqüentadores que sempre tem muito para contar. É um plano antigo escrever um livro passeando pela cidade através de botecos. Sempre acreditei (acredito ainda) que é possível contar melhor história do Rio de Janeiro através dos sabores e do também bem temperado folclores que os acompanha.
Os botequins (daqueles de paredes de ladrilho e mesas tradicionais que não precisam ser forradas com toalhas de gosto duvidoso) são a marca do Rio, porque aqui nasceram nas velhas mercearias dos portugueses que acabaram criando e adotando a hoje chamada comida de botequim. Os sabores do Rio permitem traçar um delicioso perfil da cidade. Por mais que botecos tentem instalare-se em outros estados é muito difícil encontrar algum que consiga reunir em sua essência a simpatia dos freqüentadores que alimentam os botecos do Rio.
Os botecos cariocas são os pés sujos quer não precisam ser exatamente imundos, mas apenas simples e variados e nos quais a cerveja esteja sempre gelada e o papo quente.
Agora que estou de “férias forçadas” no consumo da geladinha continuo buscando nos botecos mais do que os deliciosos tira-gostos a simplicidade, as conversas, e as lições - o aprendizado popular e por isso mesmo sábio.
Os botecos cariocas são verdadeiras salas de aula onde se ouve e se aprende de tudo, onde as lições de vida fazem parte do cardápio de petiscos, geralmente expostos nas vitrines dos balcões. Nos botequins servem-se petiscos gordurosos, mas também uma cativante simpatia que, aliás, é outra das características cariocas.
Todo ano tentam fazer a lista dos melhores botecos do Rio. É perda de tempo. Em cada esquina essa cidade maravilhosa de gente tem um bom botequim oferecendo cerveja gelada petiscos que não nos deixam resistir mesmo sabendo que estaremos aumentando o colesterol e prejudicando o fígado. Dane-se: assim estaremos vivendo intensamente o momento, o que, convenhamos, é sempre mais gosto e importante.
Nunca dispensei uma cerveja gelada de botequim atraente em sua simplicidade de mesas de mármore, cadeiras nem tão confortáveis e banheiros apertados e geralmente sujos (imundos até). Esse estranho conjunto é que forma o ambiente de raro prazer e de horas contadas. Descobri (foi difícil, confesso) que a cerveja não é o único “combustível” de botequim. Faz falta, mas com boa vontade é possível continuar freqüentando os botecos entre copos e mais copos de refrigerante e os deliciosos bolinhos, torresmo, linguiça, croquetes, seja o que for e que venham bem temperados e chorando gordura por todos os “poros”.
Na busca dos sabores do Rio é possível encontrar verdadeiras jóias para o paladar como, por exemplo, o bolinho de bacalhau perfeito do velho boteco instalado na Rua Conde de Bonfim (esquina com Rua Itacuruçá). a sardinha frita na hora e a também preparada na hora do Britânia (Rua Desembargador Isidro) que também oferece os melhores mexilhões abafados da cidade. Não dá para dispensar as empadinhas do Salete na Afonso Pena. Não é preciso procurar muito para encontrar deliciosos botecos com saborosas pedidas e cerveja no ponto. O melhor é que todos botecos realmente botecos do Rio são baratinhos. Do jeito que o povo gosta. (Eli Halfoun)

Um comentário:

  1. sintofalta quando o blog não tem umade suas boas crônicas. A dos botecos está ótima e meu de até vontade de tomar uma gelada e bombardear o colesterol,o que certamente farei hoje
    Sempre que puder publique suas crônicas ou os contos que também acho ótimos

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